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sábado, 23 de outubro de 2010

Desenvolvimento Moral do indivíduo no meio escolar

"De acordo com referencial teórico Piagetiano e e dos argumentos contidos nos PCNs, relações interpessoais podem colaborar para o desenvolvimento de uma moral autônoma, partindo de relações apoiadas na coação e respeito unilateral para relações interpessoais em que predomine a cooperação e o respeito mútuo. O desenvolvimento moral permeia as atividades escolares porque se faz presente nas relações entre as pessoas e na forma como estabelecem respeito entre si. Na escola,como em qualquer organização social, e apresentam regras, direitos e deveres nos quais seu funcionamento se apóia e, através disso, auxilia seus membros na compreensão da vida em sociedade."

Os alunos não têm mais paciência para esperar, resolver as situações com as quais se deparam, sem violência. Tudo é no tapa, no soco, e quando falamos com eles, dizem que era brincadeira. Eu sempre pergunto nestes casos que dizem ter sido uma brincadeira, se quem começou, perguntou ao colega se ele queria brincar? Óbvio que a resposta é não! Por outro lado quem foi agredido, também não tem o discernimento de pensar que não precisaria revidar. Acredita-se que esse fato esteja relacionado a construção da moralidade atual e que tem feito com que eles reajam dessa forma. Porque quando intervimos as brigas entre os alunos, eles acabam sempre fazendo parecer que aquilo é normal. E acabo por acreditar que no mundo deles é normal mesmo! Eu enquanto vice-diretora atualmente, tenho me deparado com tantas brigas dentro da escola, e quando vamos chamá-los para resolver, às vezes ficamos sem ação. Os conceitos de moralidade são outros nos dias de hoje. E quando Piaget, 1998, p 30 diz: “... a cooperação conduz à constituição da verdadeira personalidade, isto é, à submissão efetiva do eu às regras reconhecidas como boas” acredito que ele esteja dizendo que para obedecer a regras, acabamos sendo omissos. Mas se obedecermos de certa forma a regras sem que prejudiquemos o outrem ou a nós mesmos, vale a pena essa omissão. Segundo Piaget, até os dez anos os atos são avaliados pelos resultados, sem intenções. Ou seja, esse sujeito não tem a capacidade de entender essa situação quando ocorrem várias vezes e acaba por repetir a violência. Vários projetos são realizados nas escolas, mas ou não dão resultado, ou quando apresentam resultado, esse tem curta duração. Pois vivencio esse fato todos os dias. As professoras tem nos chamado para falar com as turmas quando acontecem alguns casos de violência ou indisciplina dentro das salas. Naquele momento em que estamos ali falando parece que nunca mais irá se repetir o ocorrido. Passam algumas horas, ou alguns dias e tudo acontece novamente. Mas sempre com os mesmos alunos! Quando Piaget coloca que existe a assimilação depois a acomodação, é como se o aluno não assimilasse o que lhes é dito sobre evitar a violência, portanto não acomoda e não existe o resultado esperado pelos professores. Ele coloca ainda que o respeito acontece apenas quando o adulto impõe suas regras, ou seja pela coação, ou pela cooperação, com reciprocidade, aí acontece o respeito mútuo. Mas o que leva as pessoas a escolherem quem vão respeitar? Temos uma aluna que não respeita ninguém, nenhum professor. Certo dia estava entrando na sala desta aluna, pois a professora não ouvira eu bater à porta e presenciei as duas discutindo, e quando a professora pediu que sentasse a menina lhe respondeu mal, e então eu lhe pedi que sentasse, ela deu a seguinte respostas para a professora, que inclusive me deixou um pouco constrangida: “...só vou sentar porque a Bia pediu...” Porque para haver respeito mútuo deve existir diferenças? Penso que o respeito deveria existir independente de quem quer que fosse, ou pela situação!Penso que a autonomia é a meta do desenvolvimento moral e que só existirá partindo da heteronomia. Pois quando vivenciamos a heteronomia, ou seja, só através da coação externa, temos a capacidade de sermos autônomos o suficiente para identificar o que é correto ou não. Aceitando ou não as regras impostas. Mas normalmente quando se é autônomo moralmente, aceitamos a heteronomia por parte de outrem. Porque na verdade as duas morais estão relacionadas com determinados tipos de relação interpessoal e de respeito mútuo. Geralmente os alunos que evidenciam desenvolver as duas morais, são os mais educados, respeitosos, de certa forma, mesmo com suas diferenças são capazes de expor seus ideais sem violência. Em minha opinião um indivíduo só nutre respeito às regras, se ele nutrir respeito a si próprio. Porque ele realiza o que espera que seja realizado consigo mesmo. A heteronomia precisa ser bem trabalhada, pois poderá ocorrer que a criança re-avalie e não corresponda a essa coação. De qualquer forma penso que com heteronomia ou autonomia, as escolas estão passando, ou melhor, a sociedade está passando por uma fase de perdas. Pois sem o equilíbrio regras não serão cumpridas. E elas existem em todos os momentos de nossas vidas. Seja privada, ou profissional. Acredito que está havendo uma inversão dos valores, na qual as crianças não respeitam, mais adultos, mas não respeitam a qualquer indivíduo, começando pelo desrespeito por si próprio. E hipoteticamente um dos motivos que oriunda essa violência pode ser a falta de afetividade dentro das famílias. As escolas estão tendo que assumir a Educação que deveria ter sido dada no seio familiar. Por outro lado, não tem como fugir dessa responsabilidade, pois a criança terá que aprender constantemente como conviver respeitosamente em cada momento, em cada lugar que se encontre. E essa temática transversal deve acontecer em todas as interdisciplinas, não apenas em uma ou duas, que julgam ser da sua capacidade. O papel da escola é de ensinar às crianças um comportamento racional e autônomo, a discutir e avaliar as diferentes situações que lhes sejam apresentadas, contribuindo dessa forma para que se tornem cidadãos capazes de pensar e inserir-se na sociedade em que vivem.


Referências Bibliográficas:

- Reflexões sobre a moralidade na escola – CAMARGO, Liseane Silveira.
- Significações de violência na escola – PICETTI, Jaqueline.

Um comentário:

Anice - Tutora PEAD disse...

Olá, Beatriz:

Teus questionamentos são muito válidos. Hoje o que se vê é a falta de lei paterna (segundo a visão psicanalítica, da qual concordo). Fica difícil internalizar regras, quando os acontecimentos mostram a impunidade imperando. O problema não é apenas de âmbito privado, mas também social!

Ficou faltando inserir o livro e ano das citações de Piaget. Também faltou saber qual citação é de Picetti, Camargo (e seus anos de publicação), certo?

Grande abraço, Anice.